Este é mais um exemplo de um topônimo composto de forma algo canhestra por um não-falante de tupi. Tudo começou em 1913, quando o povoado de 70 casas de Santo Antônio da Boa Vista foi elevado a distrito policial de Jaboticabal, ocasião em que se intentou mudar seu nome para um outro, de origem indígena. A denominação escolhida foi, então, Pirangi, que suspostamente significaria peixe podre, de pirá – peixe, e, talvez, ju(ka) – podre, com nasalação de pirá. O problema é que juka parece que era apenas usado para tecidos, paus, etc. – ou seja, o termo serviria para definir elementos sem sangue – ao passo que para os organismos com sangue melhor seria o adjetivo tejuka.

Em virtude, quem sabe, de tais controvérsias, passou-se a difundir uma outra interpretação para este nome inventado: seria, como afirma a prefeitura, a que dá a pirangi, literalmente, o significado de “rio vermelho”. Até poderia ser essa a interpretação, se a construção tupi, a seu turno, estivesse certa. Ocorre que dois motivos a contradizem.

Dá-se que a grafia e a pronúncia da palavra não estão corretas, pois o certo seria Pirangui e não Pirangi; no mais, a posição invertida das palavras que compõem o topônimo não faz parte da dinâmica da língua tupi. O esperado, a ser correta esta interpretação de que o topônimo significa “rio vermelho”, seria que se usasse o vocábulo “Ipiranga”, à maneira do bairro paulistano (isto é, o substantivo seguido do adjetivo, e não contrário).

De qualquer forma, o topônimo, assim, seria formado pelas palavras pyranga – vermelho, e ‘y – rio, águas, e não como foi gravado, o que não diminui nem a importância, muito menos a realidade de uma denominação que, de qualquer maneira, se impôs.

Fonte: (livro) A origem dos nomes dos municípios paulistas, Enio Squeff e Helder Perri Ferreira, 2003, pg. 224.