TJRJ - 16 de Abril
TJRJ mantém viva uma das profissões em vias de extinção: a do engraxate
É pela entrada da Rua Dom Manuel, no Centro, que o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro preserva a história de uma das profissões que lotava as ruas da cidade: a do engraxate. Em vias de extinção e na contramão dessa tendência, todos os dias, próximo aos hall dos elevadores, no Fórum Central, está Amarildo José da Rosa, que ainda se sustenta com o ofício de dar brilho nos sapatos de magistrados, advogados e até magistradas, quando têm de trocar um salto, quebrado pela má conservação das calçadas do Rio.
A imagem mostra um homem sorridente, vestido com uma camisa polo azul e calça preta, em pé ao lado de uma tradicional cadeira de engraxate feita em madeira escura, com almofadas acolchoadas de cor bege. Ele apoia um braço sobre o braço da cadeira, demonstrando descontração e orgulho. A cadeira possui pequenos degraus cobertos por tapete para apoiar os pés dos clientes. O cenário sugere ser o corredor interno de um edifício público ou institucional, com paredes revestidas em mármore claro e placas indicativas na parede ao fundo.
Profissão criada há 219 anos
A história começa assim, dizem: Napoleão governava a França e um operário, em sinal de respeito, poliu as botas de um general, e, como recompensa, ganhou uma moeda de ouro.
Isso aconteceu no ano de 1806 e estava criada uma profissão que, aos poucos, foi ganhando o mundo.
No Brasil, os primeiros engraxates apareceram no final do século XIX e eram, em sua maioria, imigrantes jovens italianos. As caixas de madeira, com graxa, escova e aquela flanela para dar o brilho, muito raramente são vistas por aí.
Mas, se esses profissionais que praticamente sumiram das ruas do Rio e do país, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, todos os dias, a tradição continua de pé.
Amarildo começou ainda muito menino. Filho mais velho de 12 irmãos, começou a trabalhar aos 10 anos como engraxate “porque queria ajudar a família” e se sentia na obrigação de levar comida para casa por ser o primogênito.
Uma história de muita luta
E, todos os dias, o menino que continua engraxate, saía de Japeri, cidade a mais de 60km de distância do Rio de Janeiro, para ir à Central do Brasil, na Casa do Menor Trabalhador, na Rua Senador Pompeu.
Amarildo, hoje com 62 anos, trabalha há cinco décadas na profissão que nunca abandonou e foi e é seu primeiro e único ofício.
“Há dez anos, eu engraxava até cem pares de sapato por dia. Dava para viver, pagar as contas e ainda ajudar minha família. Hoje, com os tênis e os sapatênis as pessoas estão usando muito, está muito difícil me manter. Tem dias que só faço dois pares de sapato”, conta ele, um orgulhoso profissional, mesmo passando por dificuldades.
Presentes dos magistrados
Depois de 45 anos, entre a Assembleia Legislativa e o restaurante Xodó do Paço, Amarildo, cujo nome é uma homenagem ao atacante, bicampeão do mundo e ídolo do Botafogo, foi chamado por um ex-presidente do TJRJ para trabalhar no Palácio da Justiça.
A cadeira de madeira foi presente de um desembargador. Ele fala de todos com muito carinho, admiração e agradecimento.
“Eu agradeço demais aos magistrados e aos presidentes desse tribunal. Além de manter uma tradição e uma profissão que está desaparecendo, eu, como dizem no filme: ainda estou aqui! E também graças aos desembargadores, juízes, servidores e advogados dessa casa que me ajudam dando aquela engraxada no que precisar, um sapato, uma bolsa, uma tinta, ou trocando os saltinhos, que eu vou seguindo”, conta Amarildo.
Amarildo, sem dúvida, é um homem trabalhador que mantém suas raízes não só na profissão: continua morando em Japeri, na mesma casa que foi dos pais, mas, que de graxa em graxa, deixou de ser de sapê para ser de alvenaria. Ali, criou também sua filha Ingrid, de 28 anos, que acaba de concluir seu Doutorado, outro motivo de orgulho que carrega no peito.
E, por essas coincidências da vida, Amarildo Rosa conheceu o ídolo do pai, o Amarildo Tavares Silveira, que substituiu Pelé na Copa do Mundo de 62 e fez bonito em campo. “Isso tem muitos anos. Eu engraxei os sapatos dele aqui no Centro e pude contar que meu nome era uma homenagem a ele. Foi muito emocionante e um dos momentos marcantes da minha vida”, lembrou.
Amarildo trabalha todos os dias das 9h às 17h no TJRJ e, para quem lembrar, no dia 27 de abril, é o Dia do Engraxate.
Amarildo merece os parabéns!
PF/MB
Fotos: Brunno Dantas/TJRJ
Por: Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro